Super Mario Galaxy

02/03/2010 16:27

Mario está de volta com um game único, explorando uma nova temática e um novo modelo de jogabilidade, com uma competência comparável à de Mario 64.

Não se pode falar da Nintendo sem ao menos citar seu principal e mais carismático mascote. Mario, que já chegou a ser mais famoso que Mickey Mouse, estrelou em inúmeros games, em gêneros como plataforma, puzzle, adventure e corrida, sendo figurinha marcada em qualquer plataforma da companhia. Depois de ter aparecido em Super Mario Sunshine no Gamecube, um jogo recebido com críticas bem mistas, o encanador volta no Wii com um novo jogo, completamente original.




Ou devo dizer, nem tanto. A história continua sendo a mesma no geral. Envolve o rapto da pobre princesa Peach, pelas mão do tirano Bowser, que em uma curiosa manobra rapta a garota e todo o seu castelo e os leva para o espaço sideral. Mario, na tentativa de resgatá-la, é também lançado ao espaço e vai parar em uma pequena galáxia, lar dos pequenos Lumas. Sua princesa, Rosalina, embora parecida com Peach, é responsável por injetar uma boa porção de drama no game, já que sua história é uma série de contos com um certo toque melancólico e um pouco destoante do resto do jogo. Por isso, tão agradável quanto ter esta interessante trama como fundo – acessada através de uma sala no observatório - é ter a opção de pulá-la completamente e focar apenas na ação do título. E, no que compete à ação e jogabilidade, Super Mario Galaxy acaba remetendo menos à Super Mario Sunshine e mais ao clássico Super Mario 64 - o jogo apresenta a mesma progressão, que objetiva a coleta de um diverso número de estrelas, encontradas ao se completar atividades em mundos cujo design é tão excêntrico quanto o jogo do N64. A comparação ao divisor de águas, que ensinou ao mundo dos games como fazer bons e divertidos jogos 3D, não para por aí, pois os cenários mais parecem grandes puzzles do que áreas com significância ou relevância (como a cidade de Super Mario Sunshine). Isso parece gerar uma sensação de disjunção e fragmentação na experiência do game – não há grandes fios condutores no design geral – mas, como Mario 64, isso faz com que cada cenário tenha seu próprio peso e que o entretenimento seja naturalmente mais momentâneo, baseado na experiência única que cada um dos variados estágios proporciona.

A principal diferença entre os dois, e o que coloca Galaxy como um jogo único na quilométrica franquia, é toda a dinâmica do espaço. Mario agora está imbuído de físicas extremamente complexas e sua movimentação, embora similar ao do encanador de Mario 64, é influenciada pelos campos gravitacionais dos diversos planetas que percorre. Cada estágio é uma galáxia, composta por uma série de pequenos corpos celestes, de formatos e dinâmicas distintas, formando uma rede de desafios e quebra-cabeças. Mario pode viajar por entre eles por meio de estrelas, que lançam o personagem quando o jogador dá um leve balanço com o wiimote. É importante citar que o game faz um uso bem inteligente do sensor de movimento: o jogador pode usar o controle como uma mira em um jogo de tiro, para capturar pequenas estrelas coloridas, que servem como a moeda do jogo, e pode ainda atira-las contra os oponentes como o botão B. Fora isso, o game só exige gestos do controle em uma corrida nas costas de uma raia gigante ou controlando uma bola no melhor estilo Super Monkey Ball. Tudo é bem preciso e serão raras as vezes em que o gesto não será corretamente lido pelo jogo. É bom ver que a Nintendo decidiu manter os controles baseados no leitor de movimento em um mínimo, focando numa experiência mais confiável do que jogos como Red Steel.

 




Como em Super Mario Bros. 3, o encanador tem a sua disposição um extenso “guarda-roupa”, que permite que ele ganhe acesso a novas habilidades. Há desde a adorável roupa de abelha, que Mario utiliza para voar e andar por sobre colméias até clássicos como a roupa que possibilita que Mario lance bolas de fogo ou outra que o torna invencível por um certo período de tempo. Uma mais inusitada permite que Mario se transforme em um Boo e atravesse paredes sólidas. O design de fases encoraja o jogador a fazer uso de cada vestimenta que estiver ao seu alcance, e exige pensamento rápido, em uma dinâmica de jogo ágil e divertida, porém pouco desafiadora. A busca pelas 60 estrelas que liberam o estágio final é bem fácil se comparada a do clássico do N64, ou mesmo de jogos plataforma mais antigos, e os chefes exibem pouco desafio. A dificuldade vai aumentando gradativamente conforme o jogador avança pelas fases, mas veteranos da série só vão achar um desafio à altura nos últimos momentos de jogo. Paralelamente, a procura por todas as estrelas aumenta consideravelmente o desafio e é recomendado, visto que recolher todas libera o final especial do game.

Desde as cenas de abertura já dá para perceber que a apresentação visual do game é uma das melhores do console, demonstrando todo o seu potencial gráfico: distorções acompanham o calor de bolas de fogo, partículas voam com o choque de meteoritos, a água apresenta efeitos de reflexão e refração da luz e os próprios personagens respondem realisticamente à iluminação ambiente. Isto sem contar o trabalho de textura que cria espaços que, embora sejam complexos, têm todo um visual clean e leve, com uma palheta de cores extremamente agradável aos olhos. Cada planeta tem um formato único e inusitado que varia desde uma grande casa de brinquedos, maquinárias e mesmo uma cabeça de yoshi gigante. Tudo isto é completado por uma incrível direção de arte e um cuidado muito especial com as animações in-game. Embora o visual infantil possa desanimar alguns, todo o design e o departamento visual criam um pacote que é essencialmente obrigatório a qualquer fã do Wii. A câmera no game, embora sendo fixada em posições estratégicas e tendo que dar conta das complexas manobras que Mario executa em baixa gravidade – muitas vezes resultando em uma volta completa ao redor de um planeta – é muito competente, focando não só no personagem, mas também em áreas de interesse ou em soluções visuais para certos desafios.

A Nintendo prossegue firme com a decisão de colocar o mínimo de dublagem possível em seu game. Embora a decisão tenha ferido games mais envolventes e emocionalmente épicos como The Legend of Zelda: The Twilight Princess, em Mario Galaxy isso se torna apenas um detalhe. A única voz que aparece é da princesa Peach, lendo a carta que envia a Mario, em um estilo similar ao de Super Mario 64, além dos clássicos maneirismos de Mario. O que mais vale para a experiência, no fim das contas, é a trilha sonora que, em Galaxy, é muito forte e competente, dando um tom épico às manobras do italiano pelo espaço. Ela é majoritariamente orquestrada e traz de volta temas musicais de games anteriores de uma forma bem inteligente, levando o jogador através do rico material criado por Shigeru Miyamoto no decorrer das últimas décadas.

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